Brasil beira da recesso econmica
Tecnicamente, a comprovação só vira nas próximas semanas, quando o resultado do PIB do segundo trimestre for divulgado e o desempenho do primeiro trimestre for confirmado, mas existe uma boa chance de o Brasil ter entrado em recessão em 2014. Por definição, o fenômeno acontece quando o país passa por dois períodos seguidos sem crescimento na sua economia. Independente do nome, é certo que a atividade econômica nacional vem andando de lado nos primeiros meses do ano e que o país, pelo menos, passa bem perto de uma retração.
INFOGRÁFICO: Veja quais são os sinais que apontam para a recessão
Linha do tempo
Alguns índices econômicos de hoje estão no mesmo patamar de antigas recessões
2001 – Do segundo ao quarto trimestre de 2001, o PIB brasileiro fechou em queda. A crise energética da época foi o principal motivo, acompanhada de uma forte alta de juros e uma desaceleração na atividade econômica.
2002/2003 – A desvalorização do real perante o dólar nos trimestres da virada de ano levaram a um aperto monetário bastante restritivo e ao encolhimento da economia. O mercado trabalhava em ritmo de espera enquanto a administração federal mudava.
2008/2009 – A crise financeira mundial levou ao encolhimento das economias de todo o globo. No Brasil, ainda que o impacto tenha sido dos menores, a atividade econômica também retraiu por dois trimestres. Muitos indicadores de hoje no país se assemelham à esta época.
É ou não é?
Economistas divergem sobre situação econômica do país
Recessão
A maioria aposta em um segundo trimestre em queda. Quando o IBGE revelar este resultado, ele também vai confirmar a evolução do PIB no primeiro trimestre, que registrou alta de apenas 0,2%.
Pré-recessão
A queda nos resultados industriais pressionam o desempenho do segundo semestre e vai ser determinante para definir se a economia, como um todo, apresentará queda.
Sem recessão
Apesar da crise em alguns setores, o cenário se baseia no recuo da inflação e na manutenção nas taxas gerais de emprego e renda. É o que defende o governo federal.
Os relatórios de bancos e agências de avaliação já antecipam esta possibilidade. A Moody’s acredita que há 50% de chance do país estar em recessão. O Credit Suisse prevê que a falta de confiança para o segundo semestre puxou o país para um encolhimento na sua economia nos primeiros seis meses do ano.
A sensação se dá pelos maus resultados registrados pela economia até o momento. No primeiro trimestre, o Brasil apresentou um crescimento modesto, de 0,2%. Este desempenho, aliado a índices preocupantes, como a queda de 0,8% da indústria, retração do consumo das famílias de 0,1% e um volume 2,1% menor no ritmo dos investimentos, devem fazer com que o segundo trimestre feche em queda, com possibilidade de revisão do resultado anterior.
Segundo o economista Paulo Gala, da Fator Corretora, não é pessimismo imaginar que este cenário se confirme. “Está bem claro que o PIB no segundo trimestre será negativo, o que pode causar uma reavaliação do resultado do primeiro trimestre. Os indicadores apontam para isso”, afirma o estrategista da corretora.
Indicadores
O Sicredi também divulgou um relatório que alerta para este risco. Segundo o documento, o Brasil tem 90% de chance de entrar em recessão no segundo semestre. “O PIB é um indicador global, mas o cenário de recessão vai além disso. Indústria em crise, renda em queda, consumo parado. Estes sinais são suficientes para dizer que, sim, estamos em recessão”, afirma o economista do Sicredi Pedro Ramos.
Para chegar a esta conclusão, o economista usa indicadores do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getúlio Vargas (Ibre/FGV). O mais impactante deles é o Índice de Confiança da Indústria (ICI), que recuou 3,2% entre junho e julho e chegou ao nível das últimas três recessões brasileiras.
Estável
Mesmo assim, não existe um consenso. O superintendente adjunto de ciclos econômicos da FGV, que elabora o índice de confiança, Aloísio Campelo, não está convicto sobre a retração da economia brasileira no ano. “Não estamos em recessão. Não acredito que o resultado do segundo trimestre será suficientemente ruim para que o Brasil entre neste cenário”, afirma o economista. Segundo ele, apesar de uma série de indicadores negativos, a resistência da taxa de desemprego e do nível de renda seguraram a economia brasileira no período.
Aposta é de recuperação no 2.º semestre
Ainda que os índices de confiança apontem para um futuro problemático, a sensação de economistas é de que os meses de junho e julho foram os piores para o país e que o segundo semestre, mesmo que não registre uma forte retomada, deve apresentar resultados mais positivos para o setor produtivo do país.
Para o professor de macroeconomia da Universidade Federal Fluminense (UFF), Sérgio Antunes Valle, a atividade industrial deve ter uma leve recuperação nos próximos meses. “A falta de confiança do empresário da indústria e os péssimos resultados deste setor funcionam como uma âncora para o restante da economia. Com uma indústria menos pressionada, o desempenho econômico do país tende a melhorar”, afirma.
Para que isso aconteça, será necessário superar os índices de confiança que batem recordes de pessimismo. O da indústria, por exemplo, chegou aos 84 pontos – patamar próximo ao da crise financeira mundial de 2008. “Mas esta percepção foi captada quando a indústria registrou seus piores resultados, então é natural que o pessimismo seja muito mais intenso do que a perspectiva real”, completa Valle.
Para o economista do Ibre/FGV Aloísio Campelo, o primeiro semestre contou com fatores pontuais que colaboraram para a retração, como o menor número de dias trabalhados. “Excluindo estes fatores, a produção deve entrar em terreno positivo em agosto ou setembro”, explica.
A opinião se alinha com o discurso oficial do governo federal. Segundo o ministro da Fazenda, Guido Mantega, a inflação já aponta para uma curva de desaceleração e o maior número de dias úteis vai impulsionar a economia nacional.
A percepção também parte de um cenário global mais favorável. A atividade industrial chinesa fechou o primeiro semestre com o melhor resultado nos últimos dois anos, a zona do euro apresenta atividade industrial acima do esperado e os Estados Unidos já registra recuperação sólida desde 2013.