Agricultura familiar tenta fazer valer poder de voto

ELEIÇÕES 2014
 

Agricultura familiar tenta fazer valer poder de voto

Ala mais populosa do agronegócio cobra comprometimento de candidatos. Demandas incluem avanço na assistência técnica e políticas sociais
Salete Escher conseguiu aumentar renda ­– e manter família unida – com crédito rural
Jonathan Campos/Gazeta do Povo
 
 

Com mais de 1 milhão de eleitores e cerca 90% dos imóveis rurais do Paraná, a agricultura familiar tenta fazer valer seu poder de voto e lança uma série de reivindicações aos candidatos a governador. O grupo alega ter sua importância diminuída e quer evitar esquecimento ainda mais grave após as eleições.

Cerca de 517 mil das 560 mil propriedades do estado, ou 92,32%, são pequenas unidades produtivas (minifúndios), conforme o Instituto  Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra). Esse é um dos indicativos que mostram que há muito mais eleitores na agricultura familiar do que na comercial.

Crédito rural não é problema neste momento, informam os representantes dos produtores. A agricultura familiar teve orçamento do Pronaf reajustado em 14,8% — para R$ 24,1 bilhões em âmbito nacional,com previsão de repasse de R$ 3,9 bilhões ao estado na safra 2014/15. Cresce a pressão por mais assistência técnica, uma carência que permeia os discursos políticos mas que ainda não foi suprida. O setor pede ainda mais atenção social, educação e regularização fundiária.

“Temos cerca de 30% das propriedades rurais do estado ainda não regularizadas. Há também um número grande de trabalhadores informalizados, que não conseguem acesso as políticas públicas”, pontua o presidente da Federação dos Trabalhadores na Agricultura do Estado Paraná (Fetaep), Ademir Mueller.

O próximo governo precisa dar mais atenção à sucessão rural, defendem os sindicalistas que representam o Paraná e os estados vizinhos da Região Sul. “Faltam estímulos para manter o jovem no campo”, pontua Diego Kohwald, coordenador de Finanças da Federação dos Trabalhadores na Agricultura Familiar da Região Sul (Fetraf-Sul).

Parte das demandas está contemplada no plano de governo dos três candidatos mais bem posicionados nas pesquisas (Beto Richa, Roberto Requião e Glesi Hoffmann), mas sem detalhamento. O foco do trio é semelhante: assistência técnica, apoio à produção e capacitação no campo (confira no gráfico).

Essas carências são nacionais.  “Hoje o desafio é levar informação, promover acesso ao conhecimento. Ainda devemos isso para parte dos agricultores”, avalia o diretor de financiamento do Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA), João Luiz Guadagnin.

Colaborou Lucas de Vitta, especial para a Gazeta do Povo

>>Um pé atrás

Propostas sem detalhes geram desconfiança

A falta de detalhamento das propostas dos candidatos do Paraná preocupa a agricultura familiar. “Percebemos que ainda não há um compromisso forte com a agricultura familiar, mesmo com a importância econômica e social do setor”, critica o presidente da Federação dos Trabalhadores na Agricultura do Estado Paraná (Fetaep), Ademir Mueller.

Num clima de desconfiança, a entidade iniciou a distribuição de 50 mil panfletos para conscientizar os pequenos produtores sobre a importância de um posicionamento crítico para o voto consciente. “E se precisar vamos imprimir o dobro disso”, promete Mueller. “É importante não votar em corruptos, ficha-suja ou em quem não conhece a nossa luta”, reforça.

Um documento com as principais demandas do setor está sendo finalizado e será encaminhado os principais candidatos na disputa. A mesma estratégia foi adotada pela agricultura comercial na última semana.

Os sindicatos dos trabalhadores rurais possuem um histórico de militância. Anualmente, a Fetaep realiza o Grito da Terra, que traz a Curitiba representantes de todo o estado para protestar e cobrar os governantes. O evento também ocorre em escala nacional, levando a Brasília a pauta de reivindicações dos agricultores familiares.

>>Demanda

Produtores confirmam necessidade de apoio

No campo, quem se mantém na agricultura familiar relata que, sem apoio governamental, a produção de alimentos em pequenas áreas seria inviável. Essa avaliação vem principalmente de segmentos que têm custos elevados e estão sujeitos a variações bruscas no mercado.

Em Campo Magro (região de Curitiba), a família Escher faz investimentos e garante a renda com 10 hectares (cerca de 13 campos de futebol). Maria Salete, a matriarca, conta que só com crédito obtido via Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (Pronaf) foi possível construir uma leiteria e adquirir um caminhão. “Sem acesso a esses recursos, nós não estaríamos produzindo o volume de hoje”, revela.

Além da produção de leite e verduras orgânicas, os Escher também fazem processados como iogurte, geleia, molho de tomate e pães. Parte da produção é negociada via Programa de Aquisição de Alimentos (PAA), que direciona os produtos para a merenda escolar, por exemplo. A ampliação da renda mostrou-se decisiva para que os dois filhos de Salete permanecessem no campo. “Tenho 54 anos, já passei por dificuldades, mas a realidade mudou. Se eu não tivesse acesso a crédito, provavelmente meus filhos estariam procurando trabalho em outro lugar”, conta. Para o coordenador Federação dos Trabalhadores na Agricultura Familiar da Região Sul (Fetraf-Sul), Diego Kohwald, o estado precisa criar uma política estadual de fomento à agroindústria e a agregação de valor da produção do campo. O diretor de financiamento do Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA), João Luiz Guadagnin, analisa diz que o campo tem “m grupo menor de pessoas, mas com boa capacidade empreendedora e de gestão.”

 Fonte: Gazeta do povo

Post: Caroline Ribeiro - Sintracoosul - PR