Inflao prejudica FGTS, diz Mantega
O trabalhador está tendo prejuízo neste momento de inflação alta ao deixar seu dinheiro parado na conta do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS), admitiu o ministro da Fazenda, Guido Mantega. Em entrevista ao Jornal da Record News, ele reconheceu que, quando a inflação ultrapassa 3% mais a Taxa Referencial (TR), que é o rendimento que o fundo oferece, o trabalhador perde.
Só para efeito de referência, o Índice Nacional de Preços ao Consumidor (IPCA), indicador oficial de inflação do Brasil, fechou em agosto acumulando alta de 6,75% em 12 meses. "Ele (o FGTS) foi feito para uma inflação menor. Se a inflação for maior que 3% mais a TR, ele está perdendo alguma coisa. Essa regra vem lá de trás. Quando a inflação é maior que 3%, ele perde. Mas quando a inflação vai para baixo, o Fundo não perde", admitiu o ministro da Fazenda.
Mantega se atrapalhou para responder uma pergunta sobre se as pessoas que aplicam suas economias na poupança também estão perdendo dinheiro, já que o rendimento é de apenas 6,17% ao ano mais a TR, e a inflação deve fechar o ano encostada no teto da meta, de 6,5%. "Eu não sei dizer exatamente quanto está rendendo a caderneta de poupança. Ela varia de acordo com a Selic. Então, ela vai dar a inflação."
De acordo com o ministro, "temos de olhar ao longo do tempo". "Se você está numa caderneta de poupança há dois, três anos, continuará tendo rendimento seguro." No entanto, segundo Mantega, no geral, o rendimento da poupança é acima da inflação. "Mas em um ou dois meses, pode haver perda. Mas depois recupera", disse.
A caderneta de poupança não é um ativo atrelado à taxa básica de juros, a menos que a taxa Selic atinja 8,5% ao ano ou menos. Nesse caso, a remuneração da poupança passa a ser de 70% do valor da Selic.
O ministro negou que quem aplicou parte do seu FGTS em ações da Petrobrás está perdendo dinheiro diante da perda de valor da estatal nos últimos anos. De acordo com ele, não se pode olhar para o curto prazo. "Quem aplicou o FGTS na Petrobrás está ganhando dinheiro, porque a empresa está muito maior do que estava antes. Se aplicou há 20 anos, está ganhando dinheiro."
A sugestão de Mantega é de que se pense no futuro próximo, porque a produção de petróleo tem aumentado 2%, 3% a cada mês. "Então, ela tem grande rentabilidade", afirmou, acrescentando que a Petrobrás é uma empresa que tem um volume de reserva de petróleo muito grande e continua aumentando sua produção.
Questionado se a Petrobrás é capaz de se autofinanciar, o ministro disse que não, porque é uma empresa intensiva em investimentos, que só nos últimos quatro, cinco anos vestiu US$ 240 bilhões. Por isso, segundo ele, a empresa precisa se financiar no mercado.
PIB. Mantega voltou a afirmar que o Produto Interno Bruto (PIB) vai fechar o ano crescendo 0,9%. "Existem várias projeções; governo trabalha com 0,9%." O que aconteceu, segundo ele, foi que o primeiro semestre foi mais fraco, com problemas de seca, pressão inflacionária e política monetária restritiva para combater a alta de preços. "E no primeiro semestre o crescimento foi mais fraco."
No segundo semestre, de acordo com Mantega, o crédito está aumentando, a produção de automóveis crescendo e os supermercados estão voltando a vender mais. "Então, neste momento, no segundo semestre, está em torno de 2%. Olhando daqui para a frente, que é o que interessa para o consumidor, para o cidadão."
Mantega disse que não acredita na previsão do boletim Focus, que projeta 0,3% de expansão do PIB em 2014, "Acredito que não vai fechar em 0,3%. Focus tem privilégio de fazer toda semana, vai acertar. Melhorou da última vez, 0,26% para 0,28%, de dois em dois décimos por semana, chegaremos onde nós queremos", afirmou.
"Em um período de crise, em que todos os países desaceleraram o crescimento, a Alemanha vai entrar em recessão no terceiro trimestre, e a China está desacelerando." Mas o mais importante, para Mantega, é que o Brasil mantém a geração de empregos, o que outros países não conseguem. "Tem desemprego elevado na Europa, desemprego na Ásia, EUA se recupera de grande desemprego, mas no Brasil temos uma das menores taxas de desemprego."
Para ele, a população não sente a crise porque o salário real continua aumentando. "A crise não foi jogada nas costas do trabalhador", disse. "Não pode olhar só o PIB de um ano, é o PIB médio do período. Estimulamos muito a atividade geradora de emprego, geramos 21 milhões de emprego nos últimos 11 anos", ressaltou.
Fonte: Estadão
(Emilly Andrade/ FETRACOOP-PR)