Baixo desemprego e alta do mnimo sustentam aumento real nos salrios.

A baixa taxa de desemprego e a escassez de mão de obra em alguns setores, além do aumento do salário mínimo, ajudaram a puxar para cima o ganho real nas negociações trabalhistas no primeiro semestre. Apesar da fraca atividade econômica, predominaram os aumentos salariais acima da inflação, segundo levantamento do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese). As negociações estão mais difíceis, em função do quadro econômico, mas as categorias que já fecharam acordos alcançaram ganhos reais superiores aos do ano passado, quando ficaram, em média, em 1,5%.

Acordo
Alta de 10% encerra greve dos instrutores de autoescolas Felippe Anibal Um acordo firmado na manhã de ontem no Tribunal Regional do Trabalho do Paraná (TRT-PR) colocou fim à greve dos instrutores e funcionários de autoescolas do estado. A paralisação durou 12 dias e chegou a afetar a realização dos exames práticos de habilitação. Segundo o Departamento de Trânsito (Detran), 560 candidatos à primeira habilitação perderam os testes por causa da greve. Com a conciliação, os instrutores devem voltar hoje ao trabalho. O acordo entre o Sindicato dos Proprietários dos Centros Formadores do Paraná (Sindicato CFCPR) e Sindicato dos Trabalhadores em Autoescolas (Sintradesp), prevê um reajuste salarial de 10% à categoria – o que equivale a um aumento real de 4,9%, se considerado o INPC dos 12 meses encerrados em maio. O valor pago aos instrutores para as horas-aula também terá correção de 10%, passando a R$ 2,75. Segundo a proposta aprovada, o vale-alimentação dos trabalhadores do setor passa a R$ 9,50. Todos os reajustes definidos na conciliação são retroativos a 1º de junho. Os dias em que os instrutores e funcionários de autoescolas ficaram parados por causa da greve não serão descontados do salário, mas os servidores terão de repor as horas não trabalhadas. Impactos Segundo o Sintradesp, mais de 9 mil trabalhadores atuam em 939 autoescolas no Paraná. Segundo o Detran, normalmente são realizados cerca de 3,5 mil exames práticos por dia no estado. Para que as provas sejam realizadas, é indispensável o acompanhamento de um instrutor. A greve trouxe impactos diretos ao longo de três dias, quando os alunos não puderam realizar os testes no Detran. A situação só foi normalizada depois que a juíza Rosselini Carneiro, da 2ª Vara de Fazenda Pública, concedeu liminar, determinando que os grevistas não obstruíssem as vias de acesso aos prédios do Detran.
Reajustes devem ter pouco efeito sobre a inflação
O aumento real dos salários, ao contrário do que ocorreu nos últimos dois anos, não deve ter impacto significativo no consumo e na inflação deste ano. A inadimplência alta, o endividamento e o desaquecimento da economia devem segurar a demanda. “Em 2012, o aumento da renda tem um impacto muito mais em ajudar o crescimento da economia do que na inflação. Muitos desses aumentos estão repondo perdas passadas”, diz Christian Luiz da Silva, professor de Economia da UTFPR. Segundo ele, a inflação não é o principal problema de 2012. “O problema é o crescimento econômico. E a renda deve ajudar nisso”, diz. Para o economista, ao contrário do que se esperava, a piora nas expectativas para a economia e da demanda não foram suficientes para frear o ritmo de aumento dos salários. “O salário mínimo foi importante nisso, porque altera o padrão de comparação dos salários. Ele aumenta a base e puxa dos demais”, diz.
“No ano, o ganho real deve ficar entre 2% e 3%”, prevê Cid Cordeiro, coordenador técnico do Dieese no Paraná. Até agora, das 147 negociações fechadas em todo o Brasil, 95,5% tiveram ganho real – no ano passado, a média foi de 87,3%. A taxa de aumentos que superaram em 5% o Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC) também ficou bem acima da registrada ao longo do ano passado: 12,3% das negociações terminaram com reajustes desse porte, ante apenas 1,6% na média do ano passado. Para o primeiro semestre se esperava que as negociações fossem mais difíceis, já que a economia andou de lado nos primeiros meses do ano e a inflação segue menos agressiva que no ano passado. “Mas o que vimos é que o que foi decisivo na negociação foi o mercado de trabalho ainda aquecido”, acrescenta Cordeiro. Setores em que há uma concorrência maior por mão de obra tiveram que ceder mais. “Hoje 36% das demissões são feitas a pedido do trabalhador. Para segurar o empregado, os patrões tiveram que negociar melhores condições”, diz. A alta do salário mínimo, que neste ano teve ganho real de 7,5%, tem efeito sobre vários pisos salariais, segundo Cordeiro. Categorias como gráficos, vigilantes, comerciários e de funcionários municipais negociam salários na primeira metade do ano. O primeiro semestre também foi marcado por greves, como a dos motoristas de ônibus, vigilantes, empregados da Volvo, trabalhadores da construção pesada e, mais recentemente, dos instrutores de autoescolas. A projeção do Dieese é de que na segunda metade do ano – quando são realizadas as negociações de categorias de peso, como metalúrgicos, petroquímicos e bancários – a economia já estará girando na casa dos 4% ao ano, o que vai contribuir para as negociações fluírem mais. “Há uma perspectiva mais positiva. As desonerações tributárias concedidas pelo governo vão beneficiar vários setores e o câmbio também vai ajudar as empresas, principalmente as exportadoras”, afirma. Alguns acordos coletivos já foram fechados no ano passado, o que deve ser fonte de pressão para as demais negociações desse ano. A Renault, por exemplo, acertou no ano passado um acordo em que vai pagar um reajuste real de 3% para os funcionários, além de pagar R$ 15 mil de Participação nos Lucros e Resultados (PLR) e abono de R$ 5 mil corrigido pela inflação. Depois de enfrentar uma greve em maio, a Volvo antecipou o acordo de reajuste da data-base, em setembro. Os trabalhadores terão ganho real de 3%, além de pagamento de R$ 25 mil referente a Participação nos Lucros e Resultados (PLR) em duas etapas. “Esse acordos devem servir de base para negociações nas áreas de autopeças e equipamentos, por exemplo”, acrescenta.