Frango rouba mo de obra da cana-de-acar.

A escassez de mão de obra que aflige o setor sucroalcooleiro vem se intensificando com o aumento da demanda nas indústrias de carne de frango espalhadas pelo estado. Não há levantamento preciso, mas a projeção de representantes da cadeia do álcool é de que milhares de trabalhadores trocaram os canaviais e usinas pelas linhas de produção dos frigoríficos. Batendo recordes a cada ano, a avicultura chegou ao patamar de 550 mil empregos diretos e indiretos no Paraná – 5% da po­­pulação. En­­quanto isso, o setor alcooleiro em­­prega 80 mil pessoas, segundo a Associação de Produtores de Ál­­cool e Açúcar do Paraná (Alco­­par). O mesmo quadro que preocupa a indústria canavieira vem fa­­zen­­do bem para as economias locais. A disputa por mão de obra en­­tre as usinas alcooleiras e os frigoríficos é mais intensa no Noroeste do estado. A explicação está na importância das duas atividades para a geração de trabalho e a mo­­- vimentação dos setores de comércio e serviços. Com metade dos 620 mil hectares de cultivo da cana-de-açúcar do Paraná, o Noroeste reúne um terço dos abatedouros instalados no estado. Das 32 empresas filiadas ao Sindicato das Indústrias de Produtos Avícolas do Estado do Paraná (Sindiavipar), 13 estão na região e foram responsáveis por 42,15% da produção paranaense em 2011 – que chegou 1,4 bilhão de quilos de frangos. Os reflexos da mudança de perfil da mão de obra podem ser medidos no comércio das cidades onde os frigoríficos estão instalados. Com carteira assinada e mais estabilidade, diferente do setor alcooleiro em que o contrato de trabalho é sazonal e paga por produção, os trabalhadores da indústria da carne comemoram o fato de poderem comprar no crediário, além de ingressar em programas sociais como o “Minha Casa, Minha Vida”. “A mão de obra especializada da cana-de-açúcar, aquela que opera máquinas, ainda tem uma condição melhor de trabalho. Mas, o trabalhador sem especialização que fica horas debaixo do sol está sendo atraído pelo salário mais alto dos frigoríficos”, explica Clau­­demir Domingos Lansa, presidente do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Rondon. O município, com 19 mil hectares de canaviais, abriga a Usina Santa Terezinha, com 1,8 mil trabalhadores, e uma das sete indústrias de carne que o Grupo Ave­­rama mantém no estado, com 700 funcionários. “Desde 1996, quando a Averama se instalou, a disputa é grande”, afirma Lansa. Novos investimentos A própria disponibilidade de mão de obra é um dos fatores que atrai novas empresas para o Noroeste. A indústria BR Frango está finalizando a construção de um abatedouro para industrializar 420 mil aves/dia na cidade de Santo Inácio – o início da operação será em março. A previsão é que 2,5 mil postos de trabalho sejam abertos e, grande parte, preenchidos por trabalhadores oriundos do setor alcooleiro. “Temos três usinas de álcool na região que liberam 600 funcionários cada uma quando termina a safra. O que seria um problema so­­cial se torna oportunidade. Das 2,5 mil vagas, 2,1 mil po­­­­dem ser preenchidas pelos trabalhadores da cana”, aponta o presidente da BR Frango, Reinaldo Mo­­rais. O restante das vagas exige grau de escolaridade mais avançado. Dos 300 funcionários que estão trabalhando na empresa, alguns deixaram o setor alcooleiro em busca de melhores condições. An­­derson Freire Amorin trabalhou durante um ano em uma das usinas da região antes de compor o quadro da BR Frango. Segundo ele, a possibilidade de ganhar mais e o plano de carreira da empresa fo­­ram os principais atrativos na hora de mudar de emprego. “A oportunidade de carreira é melhor. Mui­­tos vieram com esse intuito e ou­­tros amigos da usina estão esperan­­do abrir vaga”, diz Amorin. Técnicas da cana auxiliam na tarefa com aves A experiência adquirida nas t­­arefas realizadas nos canaviais tem contribuído para que muitos trabalhadores consigam emprego de maneira mais rápida e fácil nos abatedouros. A explicação está no desenvolvimento das habilidades manuais, também necessárias para desossar as aves. Diferente de outras culturas como a soja, o trigo e o milho, onde a colheita é mecanizada, a maior parte da cana ainda é cortada manualmente, o que exige técnica de manuseio do facão. Preparo físico Outro ponto a favor da mão de obra da cana-de-açúcar que deseja mudar de ramo é a resistência física. Como o trabalho nas la­­vouras pode chegar a 12 horas consecutivas, muitas vezes de­­baixo de sol forte, as pessoas tendem a criar uma condição boa para suportar o trabalho em pé nos abatedouros. “O corte braçal da cana exige condição física. Diante disso, sobra energia e a adaptação para o trabalho no frigorífico é mais fácil”, diz Reinaldo Morais, o presidente da BR Frango. “A habilidade manual desenvolvida nos canaviais também conta muito”, complementa. Fonte: Site; Jornal Gazeta do Povo, (31/01/2011).